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Vitória, ES, Brazil
Alguém que busca poesia no entre da vida.

sábado, 18 de dezembro de 2010

PROCESSO

Hoje uma etapa superada
mas não completa.
Que já acena possíveis
ajustes para amahã
É desse jeito que a vida se dá.
Um pouquinho aqui
Outro pouquinho ali.
Ao mesmo tempo que traz a sensação de realização deixa a de incompletude.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Ah! Manoel

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(MANOEL DE BARROS)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ensaios de uma escrita

Escrever é como emprestar o corpo ao processo de gestação e tornar-se cúmplice nesta arquitetura de significados e linguagens. Neste movimento de transitoriedade importa escrever com pontos frouxos, com alinhavos, pois, de repente, “chega a roda viva e carrega (...)” a escrita pra lá. Pra lá onde, início, meio e fim se compõem, ora produzindo endurecimentos, ora amaciamentos nas palavras e naquele que as escreve. Escrita que, segundo Machado (2004), “pode transformar a coisa vista ou ouvida em batalhas. Ela transforma-se em um princípio de ação. Em contrapartida, aquele que escreve se transmuta em meio a esse emaranhado”. Tornando necessário escrever de lá onde se dão os acontecimentos, como diria o poeta Manoel de Barros (2010), pois “estou nos acontecimentos como um vendaval: dobrado e recurvo de espanto”.