Escrever é como emprestar o corpo ao processo de gestação e tornar-se cúmplice nesta arquitetura de significados e linguagens. Neste movimento de transitoriedade importa escrever com pontos frouxos, com alinhavos, pois, de repente, “chega a roda viva e carrega (...)” a escrita pra lá. Pra lá onde, início, meio e fim se compõem, ora produzindo endurecimentos, ora amaciamentos nas palavras e naquele que as escreve. Escrita que, segundo Machado (2004), “pode transformar a coisa vista ou ouvida em batalhas. Ela transforma-se em um princípio de ação. Em contrapartida, aquele que escreve se transmuta em meio a esse emaranhado”. Tornando necessário escrever de lá onde se dão os acontecimentos, como diria o poeta Manoel de Barros (2010), pois “estou nos acontecimentos como um vendaval: dobrado e recurvo de espanto”.